março 25, 2021
Oi! Sua empresa veicula anúncios em dispositivos móveis?
A Apple está mudando suas práticas de privacidade, e as novas regras geram consequências que envolvem mais que apenas a gigante e seus usuários. A recente atualização do iOS 14 anda causando muita polêmica, com a nova política de privacidade que permite que o usuário escolha se quer ou não compartilhar informações de utilização dos aplicativos com terceiros.
Normalmente, a coleta dos dados é feita através da tag da Apple, Identificador para Publicidade – IDFA, que identifica o aparelho e rastreia as ações do usuário conforme ele utiliza os aplicativos e o sistema. Isso fornece informações valiosíssimas para montar campanhas de publicidade e direcionar anúncios aos consumidores de forma mais personalizada e eficaz.
Agora, segundo as novas medidas de App Tracking Transparency (ATT, ou “Transparência no Rastreamento de Aplicativos”), os aplicativos precisarão pedir a autorização dos usuários para usar suas informações de uso para a personalização de publicidade. A política oferece mais transparência para os usuários com relação à coleta de dados, mas também terá impacto sobre a publicidade em iPhones e iPads.
O que ocorre agora é que a App Tracking Transparency (ATT) fica responsável por controlar o acesso ao IDFA (Identificador para Publicidade da Apple) através do pedido de permissão de cada usuário. Os dados do IDFA eram essenciais para toda a prática de publicidade móvel; agora, para que seja concedido acesso ao IDFA, é preciso que o usuário autorize cada aplicativo a colher e utilizar seus dados.
Outra ferramenta essencial nessa mudança é a SKAdNetwork, introduzida em 2018, que é uma alternativa para avaliar as campanhas sem os dados diretos dos usuários. Com foco na proteção da privacidade, ela atribui impressões e cliques a instalações de aplicativos, oferecendo informações de conversão aos anunciantes que não incluem dados pessoais ou do dispositivo utilizado.
Os aplicativos precisarão ter compatibilidade com a SKAdNetwork para acompanhar as informações de instalação e conversões. E, claro, os Apps precisarão ter novas versões e os clientes deverão atualizá-los. Por isso, levará um tempo até que as mudanças estejam em funcionamento para todos.
Toda a problemática criada pela política do iOS também afeta as redes sociais, já que o código de identificação também coleta informações através desses veículos. Essas plataformas são responsáveis por mediar anúncios de diversas empresas e dependem dessa relação para se manter ativas e gerar lucros. Após o anúncio da Apple, algumas das gigantes do mercado se pronunciaram sobre os possíveis impactos negativos da medida.
A notícia não foi muito bem recebida pelo Facebook, que se pronunciou no ano passado dizendo que os negócios de publicidade que atuam em sua plataforma serão afetados. O gigante destacou as consequências negativas para as pequenas empresas e chegou até a criar o website Speak Up For Small Businesses, abrindo espaço para essas organizações discutirem sobre as ameaças aos anúncios personalizados dos quais elas tanto dependem.
O Facebook chegou a acusar a Apple de estar buscando lucrar com a situação. Sem anúncios personalizados, as pequenas empresas precisariam oferecer assinaturas e outros modelos de pagamento nos Apps, gerando um ganho por percentual de vendas para a Apple.
Em fevereiro deste ano, o Facebook voltou atrás e afirmou que a medida pode, na verdade, trazer benefícios à rede social, caso as empresas tivessem dificuldade de ter visibilidade para seus públicos-alvo e procurassem a plataforma para tentar manter seus lucros.
Após as manifestações severas do Facebook, ainda em 2020, foi a vez do Instagram criticar a nova política da Apple, afirmando que lutaria contra as alterações na política de privacidade do iOS 14. A plataforma também questionou as dificuldades que a mudança traz para desenvolvedores, empresas e editoras de menor porte. Isso porque a coleta de informações do usuário permite gerar anúncios relevantes, responsáveis por potencializar a renda dessas organizações.
O CEO do Instagram, Adam Mosseri, argumenta que os anunciantes terão grandes problemas por não conseguirem encontrar possíveis clientes e medir o retorno dos investimentos. Isso pode acabar abalando as pequenas empresas, principalmente em um período de pandemia em que elas já estão fragilizadas.
Neste ano, o Snapchat também se pronunciou sobre a nova medida. O CFO Derek Andersen afirmou que está incerto sobre o impacto que essa ação terá. Ele diz que a situação poderá permanecer incerta durante vários meses, sem que seja possível medir as consequências para o atual momento positivo da rede social.
Já a CBO Jeremi Gorman ressaltou que o Snapchat teve apoio da Apple para se adaptar e que a rede está pronta para lidar com as mudanças. Gorman acredita que a Apple está empenhada em fazer o melhor para os consumidores e que a nova política terá consequências positivas para os usuários.
Em seguida, foi a vez do Twitter se juntar ao grupo, revelando em uma conferência de resultados financeiros que espera que a plataforma continue a ter bons resultados, apesar do esperado impacto moderado que virá com as mudanças na política de privacidade do iOS 14.
No cenário internacional, empresas que trabalham com marketing digital em dispositivos móveis se mobilizaram para formar a Post-IDFA Alliance (em referência ao Identificador da Apple). A aliança promete auxiliar os profissionais de publicidade e desenvolvedores de aplicativos nas mudanças que precisarão fazer para se adequarem às novas normas da Apple.
A iniciativa é impulsionada por empresas como Chartboost, Fyber, InMobi, Liftoff, Singular, Adcolony e Vungle, e propõe apoio aos anunciantes e discussão de melhores práticas para que os profissionais de publicidade e desenvolvimento de Apps possam melhor direcionar seus anúncios aos consumidores mais relevantes e garantir que a eficácia dessas publicidades seja medida. A proposta do grupo é oferecer dicas e espaço para discussão em diversos tipos de suporte.
Em fevereiro, o site do grupo foi lançado, oferecendo recursos como blogs, vídeos e webinars para auxiliar durante esse momento de adaptação.
Apesar de ter planejado introduzir a política logo no lançamento da versão 14 do iOS, a Apple decidiu atrasar a implementação diante das inúmeras críticas. No momento, embora os anunciantes e desenvolvedores ainda estejam no início da adaptação ao novo paradigma, as versões 14.3 e 14.4 beta do iOS e do iPadOS já exibem a caixa de diálogo que pede ao usuário para determinar se permite ou não o rastreamento das suas atividades por aplicativos e sites.
Ainda não é possível dizer se as consequências serão desastrosas para os anunciantes, ou , por outro lado, vantajosas tanto para organizações quanto usuários no futuro. Só sabemos que a nova política trará mudanças para a forma como os anunciantes trabalham a publicidade em dispositivos móveis. De qualquer maneira, veremos os impactos nos próximos meses, quando for possível comparar os resultados.
E quanto à sua empresa? Você anuncia em dispositivos móveis? Conte para a gente como você está planejando enfrentar as mudanças na política de privacidade.